Maior sustentabilidade de veículos elétricos em comparação com veículos de combustão interna

O sector dos transportes foi responsável pela emissão de 21% de todo o dióxido de carbono (CO2) na União Europeia (UE)[1]. O sector de transportes é o sector que mais depende do uso de combustíveis fósseis, sendo, portanto, um sector com crescente atenção por parte dos reguladores para que se tornem mais eficientes. Adicionalmente, a própria percepção do utilizador final tem sido cada vez mais sensível em relação aos temas de sustentabilidade, pelo que a eficiência de combustão dos veículos é um critério relevante na sua aquisição, até porque esse fator reflete-se em poupanças durante o período de vida do veículo.

Para além de um parque automóvel mais eficiente disponível para venda, os veículos elétricos (VE) surgem como uma alternativa sustentável aos tradicionais veículos de combustão interna (VCI – portanto, que utilizem, gasolina, gasóleo, gás liquefeito pressurizado (GPL) ou etanol). De facto, vários estudos demonstram uma maior sustentabilidade de veículos elétricos em comparação com VCI ao longo do seu ciclo de vida, sustentabilidade essa que aumenta se as baterias do VE forem carregadas através de produções de fontes renováveis, tal como sistemas fotovoltaicos.

Os primeiros veículos elétricos foram inventados na década de 1830[2] e ganharam muita popularidade e foram a tecnologia preferida face à combustão interna durante os 80 anos seguintes. No entanto, Henry Ford revolucionou a indústria (automóvel e não só) ao ter massificado a produção de VCI, portanto tornando-os economicamente competitivos. Desde então, os VCI têm dominado o mercado mas, nos recentes anos, a tecnologia das baterias tem tido desenvolvimentos significativos, tornando-as mais baratas, seguras e com maior capacidade, o que tem impulsionado a viabilidade dos VE.[MC1] 

Veículos elétricos não emitem poluentes durante a sua condução

Olhando para a componente de sustentabilidade ambiental, os VE apresentam uma vantagem evidente: a deslocalização de emissões para o lugar onde a eletricidade é produzida. Assim, ao passo que os VCI emitem localmente e essa elevada concentração de poluentes ser responsável por impactos na saúde dos transeuntes, os VE não emitem poluentes durante a sua condução. Em vez disso, as emissões responsáveis por essa deslocação foram já emitidas durante o carregamento das baterias e correspondendo ao mix energético da rede elétrica onde foi carregado.

Apesar de serem uma escolha vais “verde”, os VE têm intrinsecamente um aspeto limitador que é muito discutida: a sua autonomia e condições de carregamento. De facto, enquanto que a autonomia de um VCI pode variar entre os 400 e os 1000 km, havendo uma infraestrutura capaz de suportar o abastecimento dos veículos em apenas um par de minutos através de postos de abastecimento de combustível, os VE ainda não beneficiam de uma infraestrutura de carregamento vasta e capaz de abastecer os vários VE existentes na rua. Para além disso, um carregamento rápido com 50 kW demora cerca de 20 a 60 minutos para carregar 80% de um VE e um carregamento doméstico típico de 7 kW demora cinco vezes mais tempo.

Portanto, a comodidade de um VE é, ao dia de hoje, inferior à de um VCI quando olhamos para as necessidades de carregamento em curto espaço de tempo ou quando não existe a possibilidade de, de um modo prático, deixar o VE a carregar durante o período noturno. Essa comodidade é ainda mais afetada no cenário em que o VE será utilizado para viagens longas, pois a maioria dos VE tem autonomia inferior a 500 km.

Carregamentos numa casa com painéis fotovoltaicos pode potencialmente custar 0 euros

Por fim, o aspeto financeiro é determinante na efetiva penetração massificada de VE no mercado. Na bibliografia já se encontram estudos comparativos que permitem essa mesma análise, mostrando que, ao dia de hoje, os VE são, de facto, mais caros que VCI numa mesma gama[3] mas que, ao longo do seu ciclo de vida, o uso é mais barato. A hipótese mais dispendiosa de carregamento corresponde aos postos de carregamento da via pública e, mesmo nesses casos, o preço por km é 25% inferior ao carregamento de um carro a gasóleo. Se o carregamento for feito numa casa com painéis fotovoltaicos, esse carregamento pode potencialmente custar zero euros se for feito durante o período de sol.

No entanto, um VE pode custar mais 10.000 € face a um VCI com um custo de 24.000 € e, num cenário em que o VE é carregado a uma tarifa de 0,20 €/kWh, será preciso percorrer cerca de 150.000 km para que o custo de posse do VE iguale o VCI, olhando apenas para os custos relacionados com o abastecimento. No entanto, têm sido frequentes subsídios públicos para incentivar a aquisição de VE, o que tornam esta tecnologia mais atrativa nesta fase de desenvolvimento em que os custos ainda não competem com os tradicionais VCI. Outros estudos estimam, até, que o custo total de posse iguala ao fim de 90.000 km comparando uma utilização de um VE carregando-o 80% do tempo em casa e 20% do tempo nos postos de carregamento públicos com um VCI a gasóleo, o que é uma estimativa mais otimista[4].

Em conclusão, os VE não conseguem substituir em pleno os VCI devido ao seu custo de aquisição mais elevado, à comodidade de carregamento e autonomia. No entanto, os VE podem, na verdade ser adequados à grande maioria dos usos citadinos, onde 400 km de autonomia são suficientes e para utilizadores que tenham hipóteses cómodas de carregar o VE, tal como na sua garagem ou na garagem do local de trabalho. Adicionalmente, os apoios públicos à aquisição de VE têm sido frequentes, o que torna esta tecnologia mais atrativa.

A penetração dos VE no mercado automóvel tem vindo a crescer e, à medida que a tecnologia vai desenvolvendo, é espectável que as questões relacionadas com custos, autonomia e comodidade evoluam de ano para ano, pelo que é espectável que os veículos elétricos sejam a tecnologia dominante a curto/médio prazo.

https://www.deco.proteste.pt/auto/automoveis/noticias/carro-eletrico-compensa-carregar-casa


FONTES

[1] https://apambiente.pt/clima/transporte-rodoviario

[2] https://www.energy.gov/timeline/timeline-history-electric-car

[3] https://oinstalador.com/Artigos/407219-Transicao-para-a-mobilidade-eletrica-e-hoje-apelativa.html

[4] https://www.deco.proteste.pt/auto/carros-eletricos/noticias/carro-eletrico-compensa-carregar-casa


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